SOBRE RÚSSIA, GEORGIA E ISRAEL



A crise entre Rússia e Georgia põe a Sam Huntington em ridículo. Na sua tese de “O choque das Civilizações” sustenta que as culturas semelhantes é improvável que entre em confrontação. Para fazer valer tal afirmação, oferece uma série de exemplos, incluíndo os de Rússia-Ucrânia e Rússia-Georgia. Para Huntington o facto de que Georgia seja o único país cristão em Ásia converte-a num aliado natural de Rússia. Isto é errôneo em três aspectos. Um, para além de compartir o cristanismo ortodoxo, russos e georgiãos são muito diferentes e têm-se uma considerável aversão. Dois, não existe algo denominável “georgiãos”. Os residentes de Tblisi são muito distintos dos habitantes das zonas montanhosas, dos Mingrels, etc. Mentres os das montanhas são, pelo menos, respectados em Rússia, os Mingrels são detestados. Três, as culturas comuns entram em conflito, e muito mais amiúde e de forma mais violenta que as culturas forâneas. Os cristãos europeus combateram nas duas guerras mundiais entre sim, e os exemplos são inumeráveis. Os judeus odiavam os samaritãos, que são tão judeus como um sumo sacerdote. A refutação do argumento de Huntington pode-se achar mais pormenorizada no meu artigo “O Islão não é o inimigo de Occidente”.

O próprio facto da similitude georgiã, a herdança comum cristã, converteu a secessão de Georgia numa afrenta para Rússia. O subsequente alinhamento com os EEUU assegurou a confrontação militar. O divórcio é avondo traumático, e so o teu ex se vai com o inimigo muito pior.

Rússia, portanto, começou por subverter a independência georgiã com a política colonial de livro: assentamentos. A forma de colonizar Georgia foi ingeniosa: Rússia expediu massivamente os seus passaportes aos osétios e abjazos residentes em duas províncias georgiãs. Os passaportes russos ofereciam-lhes oportunidades laborais e livre circulação, e em menos de uma década consolidou o sentimento de pertença a Rússia. Pouco importa que os genuínos russos desprezem os osétios e os abjazos como asiáticos.

Osétia e Abjázia não são homogêneas, mas incluim muitas vilas etnicamente georgiãs. A questão da soberania georgiã é muito discutível: durante os últimos dois séculos o país carecia de soberania e pertencia a Rússia. Os georgiãos previamente apelaram ao precedente de Crimea: o Governo russo convalidou a iniciativa da URSS de ceder essa península a Ucrânia; e eles reclamaram parecidos direitos respeito a Osétia e Abjázia, que a URSS incorporara a Georgia. Hoje em dia, que muitos políticos russos questionam o amanho de Crimea, esse endével precedente já não se sustenta.

Na crise actual, custa acreditar que os russos reagiram tão velozmente; mais bem correm fundados rumores de que a invasão vinha sendo preparada desde há vários meses. Tanto as tropas russas como os hospitais osétios estavam inusualmente preparados. Osétia, o cliente russo, começou bombardeando Georgia –ou, pelo menos, isso dizem estes últimos- ante o qual os exaltadps georgiãos, confiados nos anos de entrenamento israeli, responderam com a invasão. Rússia interviu, freando rapidamente às mediocres tropas georgiãs, e levou-lhes só um dia mais despregar as suas forças especiais, e ocupar o protectorado dos EEUU.

O âmbito do conflito foi minúsculo: os georgiãos tiveram menos de 200 baixas, e as tropas russas menos de 100, incluñindo os osétios. Os mass média russos exageraram muito as baixas osétias, mas a julgar pelas cifras de feridos que se regristraram nos hospitais, o reconto de mortos não puido chegar aos 200.

Podemos extrair algumas lições. Em primeiro lugar, o enfrontamento de Rússia com Ucrânia não nos deveria colher de surpresa. Segundo, Medvedev continua as pegadas de Putin: Putin começou o seu mandato com a guerra de Chechênia, Medveded com a de Georgia. Um império como o russo tem que estar constantemente combatendo. Cumpre lutar sempre contra alguém, não vaia ser que os cidadãos comezem a questionar as políticas governamentais.

A opinião pública mundial não teve problema algum com a morte de civis por parte de Rússia e Georgia, a única exigência foi que rematassem o seu affaire público. De parecida maneira, Israel poderia agir respeito os árabes, mas limitando as operações a uns poucos dias. O qual seria suficiente para levar a cabo o tránsfer.

O mundo não tem problema de nenhum tipo com o cesse das províncias georgiãs ou a provável anexão russa de elas, o único ponto na agenda é a ocupação permanente de Georgia. Qualquer aspecto que se prolongue, permite que os média entrem em jogo e se faga inaceitável para a conciência de Occidente. Incusso assim, a presença continuada de Rússia em Georgia não sublevaria a Occidente. Ninguém quere convertir-se num ser indefenso; uma vez que os políticos dos EEUU e da União Europeia cheguem à conclussão de que não vam variar a política russa, adicaram-se a ignorar a questão mais que a reiterar o seu fracasso diplomático. No caso israeli, o mundo civilizado aceitou a anexão do Golão apresentado como um facto consumado.

Também podemos extrair uma lição respeito dos amigos. Os EEUU incitaram continuadamente a Georgia contra Rússia, mas não os respaldaram significativamente com armamento para repeler os invassores. A Administração dos EEUU protestou pelos drásticos movimentos dos russos mas não pelas continuadas queixas de Georgia. As garantias dos EEUU carecem de valor, especialmente as implícitas. Rússia tem, nesse sentido, uma trajectória mais fiável de apoiar aos seus sócios; e as suas armas são mais baratas. Os israelis deveriam reflexionar sobre isto.

Rússia tem-se embarcado de novo no sendeiro da confrontação militar com todo o mundo. O incremento na preparação e o despregue do exército russo, os destacamentos com armamento estratégico nuclear, as novas defesas com missis balísticos e a modernização do armamento amosa que o KGB/FSB pretendem que os seus sujeitos sejam patriotas –quer dizer, ánti-todos. A maquinária militar russa não pode repuntar: anteriormente sustentava-se numa força de trabalho e subministros praticamente gratuítos, mas agora não é capaz de pagar salários competitivos aos seus científicos e conseguir subministros a preços de mercado livre. Inclusso com Europa cabando a sua própria tumba ao subsidiá-los adquirindo petróleo e gas a preços astronômicos, esse capital não é suficiente para financiar um exército moderno; o orçamento militar russo é inferior ao 2% do americano em dólares nominais, o 10 ou 20% em termos paritários de mercado.

A pesar disto, Rússia tem regressado à sua querida e barata política de fomentar problemas por doquier a fim de ser respeitada. Georgia, Ásia Central, Ucrânia, padecem as intromissões russas. Angola, Algéria, Venezuela, Corea, Irão, Síria, Egipto, China, Índia, consumem armamento russo (que padezem os seus vizinhos). A única via de frear a Rússia é a proposta por Kennan: firme oposição a qualquer movimento russo, venda de armas a Chechênia, maior apoio aos partidos opositores, sistemas ABM no Leste europeu, vazio diplomático arredor de Rússia, e isolar os seus sócios de forma que comprendam que tratar com Rússia é desventajoso. Qualquer intento de templar gaitas com o regime de Putin é contraproducente. Ao igual que Hezbollah, interpreta qualquer falha de contundência nas respostas como um sinal de ânimo.

Tras a Guerra Fria, o consenso internacional para conter a Rússia tem-se ido apagando.Não o necessitamos. Ao igual que as sanções dos EEUU contra Irão são mais severas que as consensuadas, mas inefectivas, da ONU, assim a contenção de Rússia por parte dos EEUU será mais efectiva que a templada oposição EEUU-União Europeia. É pouco realista agardar que a União Europeia –dependente do petróleo russo e iranião- vaia a opôr-se a qualquer de eles.

A próxima vez que vejas um liberal, faz-lhe bulra. O mundo dos poderes políticos do Selvagem Oeste segue vivo e coleando.



OBADIAH SHOHER

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